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Brasil: a criatividade que nasce da diversidade e almeja a inclusão 4zb4a

| 31.05.25 - 16:30
O Brasil foi reconhecido como o primeiro "País Criativo do Ano" (Creative Country of the Year) no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions 2025. Não foi por acaso. A honraria reconhece o que nossos olhos já veem há séculos: a potência inventiva de um povo que transforma adversidades em soluções, tradições em inovações e diversidade em riqueza coletiva. Nossa criatividade é filha legítima da mistura de raças, culturas e biomas — um caldeirão onde o verde das florestas, o azul do céu e o brilho do sol se fundem ao sorriso aberto e à resiliência de quem sabe que a vida, mesmo dura, pode ser reinventada.
 
No cerne dessa criatividade está a capacidade de ver o mundo não apenas como ele é, mas como poderia ser. As gambiarras, tão brasileiras, são a expressão máxima desse espírito. Um cabo de vassoura que vira e para antenas, uma garrafa PET transformada em irrigador de plantas — esses são frutos de uma mente que desafia a escassez. Mas nossa inventividade não se limita ao improviso. Nas lavouras, a biotecnologia avança: sementes modificadas para resistir às mudanças climáticas, sistemas de energia solar integrados a cultivos agroflorestais, algoritmos que mapeiam o DNA da biodiversidade para curas médicas revolucionárias. Tudo isso nasce de um diálogo entre o ancestral e o futurista, entre o conhecimento dos povos originários e a precisão da ciência moderna.
 
A bioeconomia extrativista da Amazônia é prova viva dessa sinergia. Comunidades tradicionais, armadas com saberes transmitidos por gerações, manejam a floresta de modo a extrair castanhas, açaí e óleos vegetais sem derrubar uma única árvore. Paralelamente, agricultores do Cerrado adotam técnicas regenerativas que não apenas recuperam solos degradados, mas sequestram carbono e ampliam a biodiversidade. São práticas que mostram como a criatividade, quando aliada à sustentabilidade, pode ser ferramenta de transformação ecológica e social.
 
Contudo, nossa criatividade ainda não atingiu todo seu esplendor. A miséria, que atinge 28 milhões de brasileiros, e a desigualdade, que nos coloca entre os países mais desiguais do mundo, são barreiras estruturais ao florescimento pleno das ideias. Uma criança que a fome tem sua imaginação comprometida pela luta pela sobrevivência. Um jovem periférico, sem o a educação de qualidade, vê seu talento para a tecnologia subaproveitado. A exclusão social não apenas fere dignidades, mas também apaga possibilidades — e, com elas, soluções que poderiam emergir das periferias, dos interiores, das comunidades quilombolas e indígenas.
 
Em um exemplo muito recente, na série “Adolescência”, que retrata a violência juvenil, nos lembra que ambientes hostis sufocam a inovação. Quando a escola falha em acolher diferenças, quando o mercado fecha portas a pessoas com deficiência, quando o racismo e a LGBTQIA+fobia persistem, estamos podando asas de mentes brilhantes. A verdadeira criatividade exige liberdade — não apenas de expressão, mas de existir.
 
Imaginem o que seríamos capazes de construir em um Brasil onde todas as vozes fossem ouvidas. Se hoje, mesmo com exclusão, somos reconhecidos em Cannes, o que nos impede de sonhar com um futuro em que biomas inteiros são preservados por tecnologias desenvolvidas em favelas? Onde artistas da periferia lideram movimentos culturais globais? O onde a agricultura familiar, turbinada por inteligência artificial, vira modelo mundial de sustentabilidade?
 
Os caminhos para esse futuro am pela democracia diária. Não basta votar a cada dois anos; é preciso escolher, todos os dias, construir estruturas sociais inclusivas. Isso significa políticas públicas que garantam educação universal de qualidade, saúde mental, o à cultura e ao emprego digno. Significa empresas que adotem práticas antirracistas e inclusivas, escolas que combatam o bullying com empatia e leis que protejam os mais vulneráveis.
 
A criatividade brasileira já é um farol. Mas para que ela ilumine todos os cantos de nossa sociedade, precisamos derrubar os muros da exclusão. Só assim seremos não apenas o país da criatividade, mas o país onde criar é um direito de todos.
 
* André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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